por Comunicação CBDV — publicado há uma hora, última modificação há 36 minutos
Campeão catarinense nos anos 90, Caio Silva faz do Regional Sul-Sudeste sua volta ao esporte após ter perdido a visão em 2018
O ponta esquerda “Caio Criciúma” era rápido, driblador e fazia gols nos anos 1990. O ala Caio Silva ainda está aprendendo a se locomover baseado apenas em sons, tem medo de choques de cabeça e, aos 54 anos, exibia o nervosismo de um estreante na primeira partida da Asdefipel-RS (Associação dos Deficientes Físicos de Pelotas) pelo Regional Sul-Sudeste, iniciado nesta segunda-feira (8), em Cachoeirinha (RS). Trata-se da mesma pessoa. A diferença é que o ex-jogador de Cricíuma, Chapecoense e Araranguá, equipes tradicionais do futebol catarinense, ainda dá seus primeiros passos na modalidade disputada por pessoas cegas. Ele perdeu a visão em 2018 devido a um glaucoma e joga seu primeiro torneio oficial chutando uma bola com guizos.
“É tudo novidade para mim. Perdi totalmente a visão do olho esquerdo e enxergo vultos no olho direito. Tenho muito medo dos choques, esse cabeça com cabeça”, admite o novato na modalidade, que ele começou a praticar há pouco mais de dois anos. Reserva do time, Caio, que na verdade se chama Clairton, jogou por alguns minutos na primeira rodada do Regional e, visivelmente, ainda tem dificuldades em localizar a bola e os adversários. Não que as adversidades sejam novidade para o campeão da Copa Santa Catarina de 1991. Entre idas e vindas no futebol profissional, passou por diversas equipes, quase sempre com o “passe”, como era chamado o contrato entre atleta e clube antigamente, atrelado ao Criciúma.
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Foto mostra o time do Criciúma posando antes de um jogo nos anos 90. Caio é o último da segunda fila, com o corpo levemente curvado. Os jogadores vestem a tradicional camisa amarela e preta do “Tigre”, como é chamado o clube. Foto: Reprodução.
Casado e avô da pequena Maria Helena, de 7 anos, ele espera dar continuidade na nova carreira, mesmo que o objetivo já não seja mais o de viver do esporte. Perder a visão tão tardiamente não foi fácil, e o futebol de cegos acaba ajudando. “Eu gosto disso aqui”, diz, apontando para os colegas sentados próximos a ele na arquibancada do Sesi Cachoeirinha, palco da competição organizada pela CBDV (Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais). “Gosto de estar ali jogando, conhecendo com quem já vive esse esporte há tanto tempo. Aos poucos, eu vou me soltando”, completa.
Em quadra, ele e a Asdefipel não puderam fazer muito para segurar o favoritismo da Acergs-RS (Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul), que venceu por 2 a 0, com dois gols do costarriquenho Angel Flores. A equipe de Caio Silva volta a jogar nesta terça, às 8h30 (de Brasília), contra o CFA-PR (Clube de Futebol Adaptado).
Agafuc e Maestro largam vencendo
Favorita ao título, a Agafuc (Associação Gaúcha de Futsal para Cegos), única ganhadora na história do torneio, não deu sopa para o azar e fez 2 a 0 na Apadv-SP (Associação de Pais, Amigos e Deficientes Visuais), com dois gols de Nonato. Os atuais campeões brasileiros da modalidade venceram o Regional em 2023, 2022, 2019 e 2018 (não houve edições em 2020 e 2021 devido à pandemia). A equipe joga praticamente em casa, pois Cachoeirinha (RS) é colada em sua sede, em Canoas (RS).
Principal concorrente na luta pela taça, o Maestro-PR mostrou a que veio e não teve piedade dos cariocas do Sasjo-RJ (Serviço de Assistêcnia São José Operário) ao goleá-los por 7 a 0. Jefinho marcou três vezes, Cássio fez dois e Tiago Paraná e Maurício Dumbo anotaram um gol cada. Confira a tabela completa com todos os resultados e a sequência de partidas:
O torneio conta com dois grupos com cinco times em cada, que jogam entre si em turno único. Classificam-se às semifinais os dois melhores de cada chave. As duas equipes mais bem colocadas do Regional, exceto as que já fazem parte de alguma divisão nacional – Acergs, Agafuc, Apadv, INV e Maestro já estão na Série A –, garantem vaga para o Campeonato Brasileiro – Série B 2024, que será disputado em setembro, em São Paulo. Normalmente, os Regionais concedem somente uma vaga, mas, como a Urece-RJ, que já tinha vaga na Série B, desistiu do Sul-Sudeste, abre-se um lugar a mais na Segunda Divisão deste ano.
